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Segunda, 08 de Janeiro de 2024

Detetadas alterações nos golfinhos roazes do Sado na presença de embarcações

Os Investigadores do MARE-Ispa, Manuel Eduardo dos Santos e Luís Sobreira, promoveram um estudo sobre as alterações nas emissões acústicas dos golfinhos-roazes do Sado na proximidade de embarcações. O estudo permite determinar que a aproximação de embarcações impacta a vida social dos roazes, que alteram as frequências acústicas dos seus sinais sociais, dificultando a comunicação entre eles.

A exposição contínua ao ruído terá, assim, impacto na comunicação e na ecolocalização dos roazes, na capacidade de deteção passiva, com possíveis consequências negativas para a aptidão a longo prazo.

Este trabalho, desenvolvido pelo grupo de investigação do MARE-Ispa especializado em bioacústica e comportamento dos mamíferos aquáticos, insere-se no estudo do ambiente sonoro em que vivem os golfinhos-roazes residentes na região do Sado/Arrábida. Revela alguns dos impactos que o ruído subaquático gerado pela atividade humana tem na vida daqueles animais.

O tráfego marítimo é uma das principais causas para a perturbação antropogénica dos cetáceos, especialmente para as populações costeiras, como os golfinhos-roazes residentes (Tursiops truncatus) no estuário do Rio Sado (Portugal). Estes animais ajustam o seu comportamento vocal mudando taxas vocais, ou frequência e/ou duração, para superar os efeitos do ruído subaquático.

Neste estudo, não foram encontradas diferenças significativas no que diz respeito às taxas de emissão de cada tipo vocal na presença de navios. No entanto, registaram-se diferenças significativas em parâmetros acústicos, nomeadamente alterações em frequência e duração, para assobios e para sons pulsados (rangidos, grunhidos, guinchos). Essas mudanças, como uma mudança nas frequências vocais e produção de sinais mais curtos, podem representar estratégias comportamentais para compensar o ambiente barulhento. Embora os golfinhos-roazes residentes na região do Sado aparentemente tenham desenvolvido alguma tolerância ao ruído das embarcações, a exposição contínua ao ruído com mudanças de frequência vocal, podem ter um impacto nesta população.

Para avaliar o potencial impacto do tráfego de barcos no comportamento acústico destes golfinhos, taxas de emissão e características acústicas de apitos e sinais pulsados ​​em rajada foi feita uma análise, ​​com e sem barcos a operar nas proximidades.

As emissões vocais foram registadas no estuário do Sado e águas costeiras adjacentes, localizadas na costa ocidental de Portugal Continental. Todos os dados foram recolhidos a partir de um navio de investigação durante o horário de verão (10h00 às 18h00), com a variação do estado do mar de 0 a 2 Beaufort, entre março de 2014 a abril de 2017, em 32 dias diferentes.

Em cada dia, sempre que eram detetados golfinhos, a unidade social mais próxima era selecionada como grupo focal. Foi implementado um período de habituação de 15 minutos, antes de cada acompanhamento focal, com motores a um ritmo constante e velocidade reduzida. O navio de Investigação foi então posicionado aproximadamente 500 metros à frente da posição do grupo, com os motores e barco desligados, onde foram recolhidas amostras acústicas através de um único hidrofone suspenso na lateral do barco, a uma profundidade de 3–5 m. As gravações começaram quando o grupo estava num raio de aproximadamente 100 metros. O tamanho do grupo dos roazes foi determinado com base na contagem direta dos animais por dois observadores, calculando a média das contagens. Também foi tido em conta o contexto comportamental de acordo com as seguintes categorias: viagem, procura, alimentação, socialização e descanso.