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Quarta, 26 de Outubro de 2022

Resultados do Estudo Católica H360º

– Uma Visão Integrada do Cancro da Mama em Portugal

O Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da Universidade Católica Portuguesa vem por este meio divulgar junto da imprensa os resultados do Estudo “Católica H360º – Uma Visão Integrada do Cancro da Mama em Portugal”, desenvolvido entre 2019 e 2021, e apresentado hoje entre as 11:30 e 13:00 em conferência de imprensa no Centro de Congressos da Universidade Católica de Lisboa.

CONTEXTO DO ESTUDO ‘CATÓLICA H360º’

Em Portugal são diagnosticados cerca de 6.000 novos casos de cancro da mama por ano e, infelizmente, 1.500 mulheres morrem durante a sua luta contra esta doença. O cancro da mama tem ainda um forte impacto na qualidade de vida das doentes e suas famílias, limitando-as tanto na sua atividade laboral como na sua vida pessoal.

Do Estudo ‘Católica H360º’ resultou a primeira análise holística do cancro da mama no nosso país. A equipa responsável adaptou o conceito de ‘Avaliação 360º’ ao contexto da saúde, por forma a captar e compreender as múltiplas dimensões desta doença.

Os objetivos do Estudo foram os de concretizar uma visão sobre como vive e quais são as necessidades da doente, percebendo a realidade atual e propondo soluções para uma melhor abordagem da doente com cancro da mama, visando um modelo de gestão capaz de maximizar os recursos disponíveis no sistema de saúde português;

Para o efeito: Captou-se a perspetiva da doente (através de diversos questionários, inclusivamente de qualidade de vida) e das associações representativas de quem vive com a doença. Recolheu-se perceção ((através de inquéritos e entrevistas realizados, bem como, pela recolha de indicadores de qualidade (KPI) validados internacionalmente) do universo dos profissionais de saúde, médicos, enfermeiros e gestores em 7 hospitais em Portugal, hospitais representativos do tipo de prestação de cuidados que o país oferece às doentes.

Os Hospitais englobados foram: Instituto Português de Oncologia do Porto; Instituto Português de Oncologia de Coimbra; Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte; Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro (Unidade de Vila Real); Hospital do Espírito Santo, Évora; Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Faro; Hospital da Luz, Lisboa.

A REALIDADE DO CANCRO DA MAMA NA PERSPETIVA DA DOENTE

APENAS 32% DAS DOENTES PARTICIPARAM NUM RASTREIO AO CANCRO DA MAMA E MENOS DE 20% TÊM APOIO DA SEGURANÇA SOCIAL

Entendendo que o percurso da doente começa aquando da confirmação da doença e compreende várias etapas, muitos tratamentos e culmina, por vezes, com a recidiva e com tratamentos paliativos, então, o Estudo ‘Católica H360º’ observa que:

Ao nível do impacto na saúde e qualidade de vida, a grande maioria das mulheres com cancro da mama (91%) fizeram cirurgia, destacando-se a mastectomia total (48%), sendo esta abordagem mais comum entre as mulheres até aos 60 anos. 49% das doentes sentiram-se limitadas nas suas atividades de lazer e 46% sentiram que as dores perturbaram as suas atividades diárias.

Já ao nível do impacto psicológico da doença, com o Estudo fica também claro que 71% das doentes reconhecem preocupações associadas à doença. 67% reportam ter dificuldades de memória. 66% admitem dificuldade em dormir. 57% afirmam sentirem-se cansadas. 57% reconhecem sentirem-se irritáveis. Por outro lado, 56% das doentes sentiram-se limitadas no seu emprego e no desempenho das atividades da vida diária.

E ainda que são reconhecidos pelas doentes problemas financeiros e falhas no apoio, nomeadamente, 34% reportam que o seu estado físico ou o tratamento lhes causaram problemas desta ordem. 40% reportam recorrer a apoio informal, principalmente de familiares próximos e o apoio formal, quando existe, é contratado pelo próprio. Menos de 20% das doentes têm apoio da Segurança Social.

Por fim, as desigualdades e melhorias possíveis em relação ao diagnóstico e acesso a tratamento. Com efeito, apenas 32% das doentes inquiridas participaram num rastreio ao Cancro da Mama. A principal forma de deteção foi a auto-palpação mamária e a mamografia pedida pelo médico assistente. O tempo desde o diagnóstico histológico até início de tratamento foi em média 58 dias, com mínimo de 4 e máximo de 180 dias. O profissionalismo da equipa assistente é o aspeto que mais é referido como positivo no percurso da doente

A REALIDADE DO CANCRO DA MAMA NA PERSPETIVA DO PRESTADOR

INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS, LONGOS TEMPOS DE ESPERA, DIFICULDADES NO ACESSO SÃO ALGUMAS DAS PREOCUPAÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

No âmbito do Estudo ‘Católica H360º’, foi desenvolvida uma “Carta do Cancro da Mama em Portugal” que questionou os gestores e profissionais de saúde dos sete hospitais para obter uma caraterização detalhada da resposta prestada às doentes, tendo sido observados os seguintes conjuntos de preocupações dos diferentes profissionais de saúde:

O problema da insuficiência de recursos, nomeadamente, o número desproporcionado de doentes face à capacidade de resposta hospitalar, quer em meios técnicos, físicos e de recursos humanos, sendo esta uma preocupação também partilhada por gestores e administradores hospitalares. Os tempos de espera prolongados para a disponibilidade dos meios complementares de diagnóstico e para a execução dos tratamentos nos hospitais públicos. A dificuldade no SNS no acesso às terapêuticas inovadoras, com a necessidade de simplificar o acesso e de abreviar os tempos de resposta e autorização destes fármacos. Um elevado e excessivo número de consultas médicas que resultam do medo da recidiva por parte das doentes.

BOAS PRÁTICAS, BARREIRAS E DIFICULDADES IDENTIFICADAS

RASTREIO EM TODO O PAÍS, CRESCIMENTO DO AUTOEXAME, ACOMPANHAMENTO MULTIDISCIPLINAR E CUMPRIMENTO NA AVALIAÇÃO SEMESTRAL E/OU ANUAL

Através do Estudo ‘Católica H360º’, foram identificadas boas práticas no tratamento do cancro da mama, nomaeadamente:

O rastreio organizado está em vigor em todo o país, apesar de carecer de melhorias. O autoexame está a tornar-se uma prática cada vez mais comum entre as mulheres, à medida que vão estando mais informadas sobre a doença e a importância do diagnóstico precoce. A discussão dos casos em contexto de reunião multidisciplinar é uma realidade em todos os hospitais entrevistados. No âmbito dessa discussão são sempre tidas em consideração as diretrizes nacionais e internacionais, bem como os protocolos internos. Quase todas as doentes mantiveram avaliação por mamografia anual e avaliação clínica a cada 6/12 meses nos primeiros 5 anos após a cirurgia primária.

Da mesma forma, foram elencadas barreiras e dificuldades existentes:

A padronização e a equidade do tratamento são consideradas objetivos importantes no controlo da doença, pelo que foi avaliado o cumprimento dos indicadores de qualidade (KPIs, tal como definidos pela EUSOMA- Sociedade Europeia de Especialistas em Cancro da Mama) e demonstrou-se também entre os diferentes estádios da doença. No total de estádios localizados (I, II e III), dezoito dos indicadores de qualidade atingiram o valor alvo ideal, cinco deles o alvo mínimo e oito não conseguiram cumprir os objetivos mínimos, identificando aspetos de maior fragilidade dos cuidados prestados.

O insuficiente número de profissionais de saúde e a falta de recursos técnicos para meios complementares de diagnóstico podem comprometer a rapidez do diagnóstico e estadiamento da doença e consequentemente atrasar o início do tratamento e prejudicar a qualidade dos serviços e cuidados prestados às doentes. Isto, apesar de o diagnóstico precoce ser atualmente considerado o fator mais importante associado ao benefício de sobrevivência nestas doentes.

Os novos tratamentos, em conjunto com a deteção precoce da doença estão a permitir um maior tempo de sobrevivência das doentes, mas, como tal implica maior tempo de tratamento e acompanhamento, leva à sobrecarga dos serviços públicos de saúde.

A falta de apoio psicológico é comummente relatada, assim como a dificuldade de retorno ao trabalho. Em Portugal não existe legislação específica que proteja as mulheres com diagnóstico de cancro da mama durante o período de trabalho, nomeadamente na possibilidade de flexibilização do horário de trabalho ou na adequação do tipo de funções laborais às limitações destas doentes.

ORIENTAÇÕES PARA O DESENVOVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

DA REALIDADE ATUAL AO FUTURO IDEAL

Partindo da informação coligida na revisão da literatura, dos dados obtidos com a ‘Carta do cancro da mama em Portugal’ e dos inquéritos de opinião / focus group, avançou-se para uma reflexão que juntou em reuniões plenárias um conjunto alargado de peritos nacionais na área do cancro da mama, fornecendo sugestões sobre o caminho a seguir no sentido de melhorar a resposta à doente.

Nesse sentido, foram identificados os seguintes pontos de melhoria:

  1. Educação à população em geral e à doente com cancro da mama
  2. Acesso aos cuidados de saúde pelas doentes com cancro da mama
  3. Melhoria das equipas multidisciplinares
  4. Melhor integração entre cuidados de saúde primários e hospitalares
  5. Melhoria do apoio à doente oncológica e sua integração na sociedade
  6. Promoção da investigação

Para conhecer todas as recomendações do Estudo ‘Católica H360º’ relativas a cada um dos 6 pontos supramencionados, por favor descarregue o resumo do Estudo aqui.

Pode também descarregar a versão completa do Estudo ‘Católica H360º’ aqui.